Cairbar Schutel: “humanitário e patriótico cidadão”
“Expoente da Verdade e do Amor”, “Pai dos Pobres de Matão”, “Espírita nº 1 do Brasil” e “Bandeirante do Espiritismo”, como era chamado, Cairbar Schutel nasceu no Rio de Janeiro em 22 de setembro de 1868. Era filho de Anthero de Souza Schutel e Rita Tavares Schutel, e desencarnou, em Matão (SP), em 30 de janeiro de 1938, deixando um patrimônio espiritual de valor incalculável, seja pelo exemplo pessoal ou pela dedicação à nobre causa da Doutrina Espírita.
Na pequena cidade de Matão, a figura do farmacêutico era de incontestável importância e nada mais justo que fosse convidado a participar da vida pública. Pela sua capacidade, Schutel foi escolhido o primeiro intendente do novo município, cargo esse equivalente ao de prefeito em nossos dias. Para que possamos entender melhor, em 1895, Matão era Distrito Policial; em 1897, Distrito de Paz; e, em 1898, foi elevado a município pertencente à Comarca de Araraquara. Em 27 de fevereiro de 1898, Cairbar Schutel foi eleito vereador, com outros cinco políticos. A eles coube a prerrogativa de instalar o município. Uma vez instalado, Schutel foi eleito o seu primeiro intendente geral. Ocupou o cargo de prefeito em dois períodos: de 28 de março de 1899 a 7 de outubro do mesmo ano e de 18 de agosto de 1900 a 15 de outubro também de 1900. A política não foi o seu objetivo principal, porém deixou um legado incontestável. Não ofereceu somente a sua inteligência, doou seu coração e seus recursos financeiros.
Com recursos próprios, promoveu a construção do prédio da Câmara Municipal. Por seu caráter ilibado, não enfrentou nenhum obstáculo no período em que atuou na política. Eduardo Carvalho Monteiro e Wilson Garcia, no livro Cairbar Schutel, o Bandeirante do Espiritismo, descrevem: Recorrendo novamente a “A Comarca”, essa folha, em seu número de 6 de fevereiro de 1938, no necrológio de nosso biografado, assim se manifestou: “É absolutamente impossível em Matão falar-se, quer da nossa história passada quer da nossa história hodierna, sem mencionar Cairbar Schutel. Cairbar Schutel foi, para Matão, um dínamo propulsor do seu progresso, um arauto dedicado e eloquente das suas aspirações de cidade nascente. Mais do que isso, foi o homem que, como farmacêutico, acorria com o seu saber e com a sua caridade à cabeceira dos doentes, naqueles tempos em que o médico era ainda nos sertões que beiravam o ‘Rumo’, uma autêntica ‘avis rara’. Militando na política por algum tempo, a sua atuação pode ser traduzida no curto parágrafo que abaixo transcrevemos, fragmento de um discurso pronunciado em 1923, na Câmara Estadual, pelo deputado dr. Hilário Freire, quando aquele ilustre parlamentar apresentou o projeto da criação da Comarca de Matão. Ei–lo: ‘Em 1898, o operoso, humanitário e patriótico cidadão sr. Cairbar de Souza Schutel, empregando todo o largo prestígio político de que gozava, e comprando com os seus próprios recursos o prédio para instalação da Câmara, conseguiu, por intermédio de um projeto apresentado e defendido pelo dr. Francisco de Toledo Malta, de saudosa memória, a criação do município de Matão.’” Debateu pela imprensa, foi à praça pública para discursar sobre os princípios espíritas, escreveu 16 livros espíritas, falou em teatros, percorreu cidades, fundou o jornal O Clarim em 1905 e a Revista Internacional de Espiritismo em 1925, ambos em circulação e com penetração internacional. Criou o primeiro programa espírita radiofônico do Brasil, na Rádio Cultura de Araraquara, em 1936. Mas não foi só um divulgador por excelência. Sua casa, por longo tempo e até que alugasse uma especialmente para essa finalidade, era hotel, hospital, asilo de velhos e de crianças desamparadas e até abrigo para animais sem dono. Viveu inteiramente o espírito do Cristianismo. Seu trabalho e suas ideias foram consolidados através de alguns de seus livros:
Espiritismo e Protestantismo, setembro de 1911; Histeria e Fenômenos Psíquicos, dezembro de 1911; O Diabo e a Igreja, dezembro de 1914; Médiuns e Mediunidades, agosto de 1923; Gênese da Alma, setembro de 1924; Espiritismo e Materialismo, dezembro de 1925; Fatos Espíritas e as Forças X, maio de 1926; Parábolas e Ensinos de Jesus; janeiro de 1928; O Espírito do Cristianismo, fevereiro de 1930; A Vida no Outro Mundo, outubro de 1932; Vida e Atos dos Apóstolos, fevereiro de 1933; e Conferências Radiofônicas, setembro de 1937.
